Aos
oito anos de idade ela foi diagnósticada como sol, fazia brilhar no inverno e
durante a primavera ficava ainda mais amarela, tinha os dentes da cor do sol e
radiava reflexos luminosos em seus olhos azuis, azuis da cor do céu. Mas como
uma criança de oito anos poderia ser sol? De olhos azuis e cabelos amarelos com
dentes também amarelos e uma cor pálida, mas que ainda assim era amarela, ela
só tinha 1m e 20cm, era o menor sol de sua casa.
O
amarelo era sua cor preferida, acreditava em manhãs alegres e adorava ficar
parada ali se esquentando com o brilho que vinha do céu o qual ela mesma
produzia, mas ela não sabia, não sabia que era sol e muito menos que poderia
iluminar manhãs e tardes, ela não sabia de nada e só tinha oito anos de
idade... a duas semanas atrás o maior sol de sua casa se fechou, uma nuvem que
era bem gigante o levou e partiu pra longe, faz duas semanas que não tem
noticia daquele sol grandão que ali iluminava sua casa.
Aquele
sol, tinha traços parecidos com o dela e fazia ela acreditar no amanhã, teve um
dia que ela descobriu que precisava do sol, que sem aquele sol grandão ela não
poderia mais brilhar e muito menos mostrar seu sorriso amarelo. Noutro dia, ela
sentiu saudades dele, mas já era ontem, todos os dias já haviam se passado horas,
dias, semanas e meses... o sol que dentro dela restava foi se tornando nuvem
vazia, já não brilhava mais e muito menos sabia que poderá ser sol em dias
cinzas.
A
maior curiosidade desse pequeno sol, é que ela adorava os dias cinzas, fazia
deles poesia e dançava muito quando neblinava, dançava quando tudo era nublado
e adorava o inverno. Já faz mais de dois meses que aquele sol morreu dentro
dela, os dias nublados parecem fazer parte do seu coração e ela só dorme e acorda
desejando o fim do dia, já não sorri mais e nem chora.
O
vazio está ali, parado na estante, na cama, no banheiro e foi tomando conta da
cozinha e da sala. São 08h da manhã e ela não foi na aula, não acordou, não
desejou o fim do dia e muito menos sentiu saudades daquele sol, por que faz
mais de 08h que ela não acordou e não se deseja o fim de algo sem abrir os olhos.
Aquele sol que tinha dentro dela já não brilha mais, ela não descobriu que
podia ser sol e ele nunca disse a ela.
Escrito por Raquel Elias